Ciências Sob Tendas

Comunicados:

Quer que o Ciências Sob Tendas (CST) visite a sua escola? Fique ligado no novo edital!!!

Múmias: Conhecendo seus mistérios

Por: Jenyfer Sales Pereira, aluna de Graduação em Enfermagem pela UFF.
Orientação: Prof.ª Dr.ª Lucianne Fragel Madeira e Dr. Gustavo Henrique Varela Saturnino Alves.

Você já deve ter visto algum filme em que uma múmia assustadora do Egito volta à vida, não é? Embora muito do que vemos no cinema seja fantasia, as múmias realmente existiram e ainda existem após tantos anos. Mas você já parou para pensar por que as múmias foram criadas, para começar? Como elas permanecem tão bem conservadas até os dias de hoje? Quem foi a primeira múmia?

Fonte: Patrick Landmann/Science Photo Library 

São muitas perguntas, mas para respondê-las, é necessário considerar o contexto e o local em que as múmias estavam inseridas. O Egito Antigo era profundamente influenciado pela religiosidade politeísta da época, e a mumificação está diretamente relacionada a isso.

A crença na preservação dos corpos se baseava na história de Osíris, o primeiro deus faraó, que foi brutalmente assassinado por seu irmão Seth. Segundo a mitologia, após sua morte, o corpo de Osíris foi embalsamado por Anúbis, outro deus, e encantado pelo deus da magia e do conhecimento, Thot. Isso fez com que o corpo mumificado voltasse à vida por um período de tempo suficiente para que ele pudesse ter um filho com Ísis.

Fonte: Jaroslav Moravcik

Com isso, os deuses criaram uma espécie de mundo paralelo ao Egito, chamado Mundo dos Mortos, onde Osíris poderia governar na vida após a morte. Esse novo mundo era uma cópia das terras faraônicas.

Dessa forma, a mumificação começou a ser desenvolvida no Egito, e um dos maiores medos humanos foi atenuado para essa população através da fé: a morte não era mais vista como o fim, mas sim como o início de uma vida eterna

É lógico supor que todos os egípcios da época gostariam de passar por esse procedimento de além-vida. No entanto, nas primeiras dinastias, tais rituais eram reservados apenas aos faraós. Com o tempo, o processo foi liberado para a população em geral. Assim, dependendo do privilégio socioeconômico do indivíduo, a qualidade da tumba e da mumificação poderia variar.

A crença egípcia afirmava que o corpo era composto por diversas partes: o coração (ib), o nome (ren), a sombra (shut), a força vital (ká), a personalidade (bá) e o princípio da imortalidade (akh). Entretanto, o princípio da imortalidade consistia na união entre o ká e o bá, que só continuariam a existir com a conservação do corpo físico através da mumificação.

Agora, como era realizada a mumificação? O processo de mumificação osiriana envolvia várias etapas: lavagem, limpeza, unção e bandagem do corpo. Todo o procedimento levava cerca de 70 dias para ser concluído, pois estava relacionado ao comportamento da estrela Sírius e à cheia do rio Nilo. As etapas da mumificação eram de responsabilidade dos sacerdotes.

Fonte: Christian Jegou/ Science Photo Library 

Em uma tenda localizada na beira do rio Nilo, chamada Ibu, o corpo passava pelo primeiro passo do processo: a secagem. O corpo era colocado sobre uma mesa de pedra ligeiramente inclinada para permitir o escoamento dos líquidos. Em seguida, era realizada a lavagem com água e natrão (uma solução de sais de sódio e potássio). Em determinado momento, o cérebro era retirado pelo nariz e a cabeça era preenchida com ervas aromáticas.

Usando uma lâmina de obsidiana (uma pedra vulcânica), era feito um corte no lado esquerdo do abdômen para a retirada dos órgãos internos (estômago, pulmões, fígado e intestinos), que eram guardados separadamente em recipientes próprios. No entanto, o coração, ou um amuleto representativo dele, permanecia no corpo, pois era considerado o local da consciência e do intelecto da pessoa, além de uma parte do corpo não físico.

Fonte: Orly Wanders

Vasos canópicos datados da Baixa Época (MARIE; HAGEN, 1999, p. 154).

De acordo com a mitologia, após a mumificação, o deus Anúbis levava o falecido a uma balança onde o coração era pesado em relação à pena da deusa Maat, que representa a ordem e a justiça. Se o coração fosse mais leve, o indivíduo teria o direito de renascer no além-túmulo e Osíris lhe concederia vida eterna. Se o coração fosse mais pesado, isso indicava que a pessoa não tinha uma consciência leve, e a deusa Ammit devoraria seu coração, condenando a pessoa a nunca mais renascer.

Fonte: Mary Evans

Seguindo a discussão sobre o processo de mumificação, o corpo era coberto novamente com natrão por um período de quarenta dias para desidratação. Após esse período, o corpo era perfumado mais uma vez e recebia óleos e resinas especiais. Em seguida, o corpo era bandado com linho, sendo que cada parte do corpo era envolvida separadamente. Amuletos contendo símbolos de proteção e boa passagem eram colocados entre as faixas para garantir uma transição mais segura para a vida após a morte.

Ao final do processo, a múmia recebia um ataúde (caixão no formato do corpo), que era decorado com descrições da pessoa, incluindo seu nome e ofício, tanto na parte interior quanto exterior. O ataúde era então colocado dentro de um sarcófago, geralmente de pedra e com formato retangular, dentro da tumba. 

Fonte: Wikimedia Commons  

Ufa, falei demais! Você imaginava que havia tantos processos assim? Agora, quando você rever um filme com múmias, poderá compartilhar essas curiosidades com seus amigos. Até o próximo texto do blog!

Referências:

 
HENRIQUES, Priscila. Múmia. Universidade Federal do Paraná, 2009. Disponível em: https://docs.ufpr.br/~coorhis/priscila/mumia.html. Acesso em: 01 ago. 2024.

Copyright 2024 - STI - Todos os direitos reservados

Skip to content