Por: Daniella Alves de Melo Nunes, graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal Fluminense, UFF.
Orientação: Prof.ª Dr.ª Lucianne Fragel Madeira e Dr. Gustavo Henrique Varela Saturnino Alves.
Os tubarões são peixes cartilaginosos, ou seja, possuem esqueleto cartilaginoso, e apresentam uma significativa variedade de tamanhos e hábitos, por exemplo, podendo variar de cerca de 20 centímetros até 12 metros de comprimento. Seus hábitos alimentares incluem a filtração de plâncton e a ingestão de grandes peixes, tartarugas e aves! Esses animais ocupam posição de topo na cadeia alimentar, por isso desempenham papel muito importante no equilíbrio ecossistêmico e na manutenção da biodiversidade marinha, já que regulam o tamanho das populações de vários outros animais ao predá-los, evitando que se reproduzam sem controle.
Fonte: Brian Skerry em National Geographic.
No brasil, são encontradas ao menos 169 espécies de peixes cartilaginosos, sendo 84 tubarões, 79 raias e 6 quimeras. No entanto, apesar do grande número de espécies, os elasmobrânquios (tubarões e raias) encontram-se em estado de alerta devido à pesca e à degradação ambiental. Outros fatores como a baixa taxa de crescimento, idade tardia de reprodução e número reduzido de filhotes, fazem com que as populações de tubarões e raias demorem muito tempo para se recuperarem dos impactos provocados pelo homem.
A maior ameaça que afeta esses animais é a sobrepesca, acidentalmente como fauna-acompanhante e também, capturados intencionalmente como espécie-alvo. No Brasil, as carnes de tubarões e raias são comercializadas com o nome genérico “cação”, sendo muito popular em diversas regiões por ser um peixe barato e sem espinhas. Além do consumo de cação existe outro problema: o finning. Tal prática consiste na retirada das nadadeiras dos tubarões, seguido do descarte das carcaças ao mar durante a pesca, devido ao elevado valor das nadadeiras, muito superior que a carne do animal. Em reflexo dessas práticas, estatísticas nacionais mostram que nos últimos anos ocorreu um declínio de 80% na abundância de várias espécies de elasmobrânquios, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Nesse sentido, estudos estimam que matamos cerca de 100 milhões de tubarões por ano no mundo e o Brasil é um forte contribuinte nesses números alarmantes devido ao grande consumo de cação no país. Isso porque a população brasileira alimenta-se de diversas espécies de tubarões e raias com o nome de cação, chegando a 45 mil toneladas por ano, o que nos torna o maior consumidor de carne de tubarão no mundo!
Um grande problema é que muitas pessoas ainda desconhecem o que de fato é cação. Em uma pesquisa feita pela organização sem fins lucrativos Sea Shepherd Brasil, foi demonstrado que cerca de 54% dos brasileiros desconhecem a origem da carne de cação. Isso acontece porque o país recebe a carne de tubarões vinda de países que comercializam apenas barbatanas, ou seja, recebe os restos de tubarões e raias após a retirada das barbatanas, os quais vêm sem identificação da espécie. Isso é problemático porque podemos estar recebendo espécies, inclusive, ameaçadas de extinção genericamente englobadas na nomenclatura cação.
Fonte: Sea Shepherd Brasil.
Caso a importância ecológica não baste para te impactar, talvez o que será mencionado a seguir funcione: o consumo de tubarão pode ser prejudicial à saúde, pois muitas espécies podem concentrar contaminantes e metais pesados. Isso ocorre porque esses animais são predadores de ápice na cadeia alimentar, por isso são sensíveis à bioacumulação de metais tóxicos no ambiente marinho, como, por exemplo, mercúrio, chumbo, zinco e arsênio. Pesquisas mostram que esses metais foram encontrados em limites superiores aos máximos aceitos pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), assim, o consumo da carne de tubarão pode ter grande potencial para a exposição humana a substâncias muito perigosas à saúde.
Apesar do triste cenário, algumas medidas já estão sendo tomadas por ONGs, como a Sea Sheperd Brasil, em sua campanha Cação é Tubarão, a qual visa alertar a sociedade acerca da caça ilegal de tubarões no Brasil, além de cobrar medidas governamentais do poder público. E também por órgãos públicos, como o ICMBio, o qual pactuou o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Elasmobrânquios Marinhos Ameaçados de Extinção: PAN Tubarões. Tal plano objetiva, monitorar e controlar a captura incidental de tubarões e raias, conscientizar e sensibilizar a sociedade acerca do tema, propor normas e regulamentos que protejam esses animais, dentre outros objetivos.
Ainda assim, mesmo com o trabalho de ONGs e órgãos públicos, é fundamental a participação conjunta da sociedade na luta contra a comercialização de carne de tubarões e raias, pois enquanto houver compradores, também haverá alguém para vender. Por isso, pense duas vezes antes de adicionar cação em seu prato.
REFERÊNCIAS
https://tede2.ufma.br/jspui/handle/tede/4472#preview-link0
https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/biodiversidade/pan/pan-tubaroes
https://seashepherd.org.br/cacao-e-tubarao/
https://www.ufrgs.br/faunadigitalrs/condrictes/
https://agenciaeconordeste.com.br/cuidar-dos-tubaroes-e-dos-oceanos-e-cuidar-de-nossa-propria-saude/
https://seashepherd.org.br/tem-barbatana-no-seu-prato/
https://www.nationalgeographic.pt/meio-ambiente/nadando-com-tubaroes-tigre_759