Por: Kethyllen da Silva Maia Rodrigues, aluna de Graduação em Biomedicina pela UFF.
Orientação: Prof.ª Dr.ª Lucianne Fragel Madeira e Dr. Gustavo Henrique Varela Saturnino Alves.
A mulher e a ciência caminham juntas há muito tempo, e apesar dos obstáculos enfrentados por aquelas que se aventuram no campo científico, é inegável o quanto sua contribuição é vital tanto para o avanço da pesquisa quanto para o progresso social feminino.
A luta pela igualdade de gênero é extensa, incluindo batalhas históricas como pelo direito ao voto feminino conquistado em 1932 através do Código Eleitoral assinado pelo então presidente Getúlio Vargas. A luta se estendia também ao acesso à educação e aos direitos trabalhistas: nos Estados Unidos, as mulheres só foram admitidas em universidades a partir de 1837, e no Brasil, o ensino superior tornou-se acessível para elas somente em 1879, refletindo a segregação sofrida. A inserção e manutenção das mulheres no mercado de trabalho em condições iguais às dos homens também foi e é um desafio enraizado, persistindo como um problema desde a antiguidade até os dias atuais.
Figura 1: Em 1955, eleitora vota para presidente da República no Rio de Janeiro: direito arduamente conquistado.
Fonte: Agência Senado, 2024.
Diante desse cenário hostil, as mulheres foram historicamente marginalizadas dos espaços acadêmicos e científicos, seja por estereótipos que associavam a figura feminina ao trabalho doméstico, repercutindo um discurso de que as mulheres não teriam o tempo necessário para investir em suas carreiras por já ocuparem esses ambientes familiares, seja pela própria legislação, com leis discriminatórias que as excluíam de instituições educacionais e certos ambientes profissionais. Essas leis, mesmo quando revogadas, não eliminavam o preconceito que as cercavam. Contudo, isso não impediu que diversas mulheres deixassem suas marcas em diferentes áreas da ciência, como a medicina, filosofia, ciências políticas, exatas e biológicas.
Juntamente com grandes marcos e evoluções no campo científico, as mulheres estiveram presentes e foram cruciais para esses feitos. Quem são algumas dessas mulheres?
Marie Curie: Polonesa, Marie Curie conseguiu grande destaque em sua carreira e foi a primeira mulher a ganhar o Nobel de Química não uma, mas duas vezes, em 1903 e 1911. Conhecida como a “mãe da física moderna”, foi pioneira na pesquisa sobre a radioatividade e descobriu e conseguiu isolar os isótopos dos elementos polônio e rádio.
Figura 2: A cientista Marie Curie, única mulher ganhadora do prêmio Nobel duas vezes, de Física e Química.
Fonte: BBC News Brasil, 2021.
Rosalind Franklin: A pesquisadora inglesa foi fundamental para a descoberta do formato da molécula de DNA em meados de 1951, mas seu reconhecimento infelizmente veio tardiamente, pois foi um trio de cientistas homens que levou o destaque pela pesquisa e conquistou o Prêmio Nobel.
Figura 3: Rosalind Franklin realizou uma importante descoberta sobre o DNA.
Fonte: Aventuras na história, 2021.
Ada Lovelace: Ela foi uma matemática e escritora inglesa considerada a primeira programadora de computadores da história, desenvolvendo seu primeiro algoritmo com apenas 27 anos, em 1842. Mesmo em sua época, Ada já compreendia que os computadores do futuro poderiam ir além da simples computação ou processamento de números.
Figura 4: Ada Lovelace e sua obra, que deu origem ao algoritmo de computadores modernos.
Fonte: Geekhunter, 2022.
Bertha Maria Julia Lutz: A brasileira foi uma ativista pelo feminismo, sendo considerada responsável direta pela articulação política que resultou nas leis que deram direito de voto às mulheres e igualdade de direitos políticos. Bertha foi cientista, feminista, educadora e política brasileira que dedicou sua vida à luta feminista e aos estudos sobre o grupo dos Anfíbios anuros, destacando-se na área de zoologia.
Figura 5: Bertha Lutz na conferência de fundação da ONU, em 1945: diplomata e cientista também lutou pelo voto feminino.
Fonte: Agência Senado, 2024.
Jaqueline Góes: Uma das figuras científicas de destaque mais recentes, Jaqueline é biomédica, mestre em Biotecnologia e doutora em Patologia Humana e Experimental. Ela conseguiu o sequenciamento do coronavírus (SARS-CoV-2) em tempo recorde de 48 horas, quando o padrão era de 15 dias, o que foi crucial no combate à pandemia de COVID-19.
Figura 6: A excelência das pesquisas é a marca da atuação da doutora Jaqueline Góes de Jesus.
Fonte: AMAERJ, 2020.
Apesar de muitos avanços, as mulheres ainda enfrentam barreiras significativas na ciência. Segundo pesquisas, nos últimos vinte anos, a participação das mulheres como autoras em publicações científicas cresceu cerca de 29%, colocando o Brasil em terceiro lugar entre os países com maior participação feminina na ciência. Porém, também se observa que, ao avançar na carreira, ocorre uma tendência de diminuição da participação de pesquisadoras em trabalhos científicos.
Superar o desafio da invisibilidade e segregação das mulheres no ambiente acadêmico e científico requer o compromisso de toda a sociedade. É necessário incentivar a entrada e permanência dessas jovens no meio acadêmico, reforçando que sua presença não é apenas bem-vinda, mas indispensável para o avanço da ciência.
Referências
NOVA ESCOLA. As principais conquistas das mulheres na história. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/16047/as-principais-conquistas-das-mulheres-na-historia>. Acesso em: 3 jul. 2024.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Mulheres no mercado de trabalho: uma evolução constante rumo à igualdade. Disponível em: <https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/noticias-e-conteudo/2024/Marco/mulheres-no-mercado-de-trabalho-uma-evolucao-constante-rumo-a-igualdade>. Acesso em: 3 jul. 2024.
MULTIRIO. A história das mulheres cientistas no Brasil. Disponível em: <https://www.multirio.rj.gov.br/index.php/reportagens/15510-a-hist%C3%B3ria-das-mulheres-cientistas-no-brasil>. Acesso em: 3 jul. 2024.
MULTIRIO. A história das mulheres na ciência. Disponível em: <https://www.multirio.rj.gov.br/index.php/reportagens/15509-a-hist%C3%B3ria-das-mulheres-na-ci%C3%AAncia>. Acesso em: 3 jul. 2024.
NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. A primeira mulher programadora da história previu a existência da inteligência artificial. Disponível em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2023/10/a-primeira-mulher-programadora-da-historia-previu-a-existencia-da-inteligencia-artificial>. Acesso em: 3 jul. 2024.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ (UNIFEI). Bertha Lutz. Disponível em: <https://unifei.edu.br/personalidades-do-muro/extensao/bertha-lutz/>. Acesso em: 3 jul. 2024.
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE (CNS). Jaqueline Góes de Jesus: cientista que mapeou o genoma do coronavírus é homenageada pelo CNS. Disponível em: <https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/2251-jaqueline-goes-de-jesus-cientista-que-mapeou-o-genoma-do-coronavirus-e-homenageada-pelo-cns>. Acesso em: 3 jul. 2024.
CNN BRASIL. Participação feminina na ciência brasileira cresce 29% em 20 anos, diz relatório. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/participacao-feminina-na-ciencia-brasileira-cresce-29-em-20-anos-diz-relatorio/>. Acesso em: 3 jul. 2024.