Ciências Sob Tendas

Descongestionantes nasais viciam?

Por: Isabela Muniz Navarro Razinhas – aluna de graduação de Biomedicina na UFF.

Mudanças de temperatura, como o ar seco e as baixas temperaturas, formam o ambiente perfeito para um sintoma que acomete e incomoda profundamente muitas pessoas: nariz entupido. E, ao primeiro sinal, é comum que as pessoas recorram ao uso de descongestionantes nasais para desobstruir as narinas e facilitar a passagem do ar.

Porém, apesar de ser um medicamento bastante conhecido, seu uso contínuo e em excesso pode ser altamente prejudicial à saúde. Isso porque é possível que a pessoa desenvolva vício em descongestionantes nasais, expondo o organismo a quantidades excessivas da substância. Além disso, esse tipo de remédio é vendido sem prescrição médica, e deve ser utilizado com cuidado.

De acordo com o Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital das Clínicas da cidade de São Paulo, os desdobramentos da utilização indiscriminada de descongestionantes nasais ocupam o terceiro lugar na lista de problemas causados por efeitos colaterais e uso incorreto de remédios, perdendo apenas para os decorrentes de anti-inflamatórios e analgésicos.

Mas, afinal, como os descongestionantes nasais funcionam?

A congestão nasal, ou o popular nariz entupido, nada mais é do que uma reação do organismo a condições inflamatórias, infecciosas e até anatômicas, como desvio do septo que é uma condição em que a parede que divide as narinas é deslocada para um dos lados (imagem 1) e a presença de pólipo (imagem 2) nas narinas. Quando um agente irrita a região, vasos sanguíneos se dilatam, o volume de sangue aumenta e os cornetos incham – obstruindo a passagem de ar. Os descongestionantes nasais provocam a sensação de alívio nas narinas por conterem substâncias vasoconstritoras, ou seja, fazem com que os vasos sanguíneos se contraiam. Como nafazolina, fenoxazolina, oximetazolina, fenilefrina e pseudoefedrina em sua composição. Consequentemente, os vasos do nariz se contraem após a aplicação do produto, o fluxo de sangue diminui, o edema da mucosa reduz, e com a baixa produção de muco, a pessoa tende a respirar melhor. É isso o que promove a sensação momentânea de que o nariz abriu.

Por mais que esse tipo de medicamento seja muito eficiente, seu uso apresenta riscos, como a chamada rinite medicamentosa, que é um dos possíveis efeitos da aplicação excessiva de descongestionantes nasais. Esta categoria de rinite é um efeito rebote do uso do medicamento, isto é, acaba potencializando a irritação no nariz. Depois de algum tempo de uso, o efeito do produto tende a diminuir no corpo, e o nariz volta a ficar entupindo, o que obriga que a pessoa tenha que diminuir o intervalo das aplicações do descongestionante nas narinas.  O nariz começa a funcionar utilizando o descongestionante e pode chegar num ponto em que somente a cirurgia pode reverter a situação. Outros efeitos do descongestionante no organismo são a taquicardia e a hipertensão. Em casos mais graves, existe até o risco de morte causada pela arritmia cardíaca e pelos picos de pressão arterial. Justamente por este risco, o descongestionante nasal é contraindicado para pessoas hipertensas e com histórico de problemas no coração.

Afinal, os descongestionantes nasais viciam, ou não?

A resposta é: sim. Porém, o termo correto para definir essa situação é chamado de “efeito rebote”, tendo a sensação de alívio imediato como seu maior responsável. Assim que alguém usa o medicamento, o nariz desentope rapidamente, quando o efeito passa, o nariz volta a fechar. Quanto mais a pessoa utiliza o medicamento e respira melhor, mais a pessoa sente a necessidade de usá-lo. Seu uso crônico reduz o tempo de efeito do remédio, fazendo com que o nariz entope mais rápido.

Referencias:

Conheça os efeitos do uso exagerado de descongestionantes nasais | Viva Você | G1 (globo.com)

‘Parecia uma drogada’: ela chegou a usar um Neosoro a cada três dias (uol.com.br)

Vício em descongestionantes nasais realmente pode acontecer e até levar à morte, diz médico – Hospital Paulista – Ouvido, Nariz e Garganta

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