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A inteligência emocional e o filme Divertida Mente

Por: Vinck Anjos Christani – aluna de graduação em Enfermagem na UFF.

A animação Divertida mente, da Disney/Pixar de 2015, apresenta a trajetória de Riley, uma garota de 11 anos que reside em Minnesota, EUA, junto com seus pais. Sua vida transcorre de maneira tranquila, repleta de amizades, um vínculo saudável com seus pais e sua participação no time de hóquei da escola. No entanto, tudo se transforma quando a família é obrigada a se mudar para uma nova cidade devido ao emprego do pai da personagem, o que acarreta na mudança de escola para Riley e na interrupção de sua participação no time de hóquei. Essa transição provoca um profundo impacto na vida da jovem, desencadeando dificuldades em lidar com tantas mudanças repentinas.

Mas essa jovem não é uma pessoa comum. Dentro de sua mente, existe uma sala de comando, onde habitam seres animados que influenciam a maneira como percebe os eventos de sua vida, personificando cinco emoções distintas: Alegria, Raiva, Medo, Nojinho e Tristeza. Além dessas emoções, formam-se ilhas que simbolizam sua personalidade e abrigam memórias ligadas a cada uma dessas emoções. As lembranças são simbolizadas por esferas, cujas tonalidades são definidas pelas emoções ligadas ao momento, e essas tonalidades podem ser modificadas com base na interpretação da memória ao passar do tempo.

A alegria possui um tom amarelo vibrante rodeada por um brilho radiante e seus membros são alongados lembrando a forma de uma estrela. Essa emoção é responsável por irradiar confiança e entusiasmo de maneira constante. A tristeza, em contraste, é envolta em tons de azul e possui uma forma arredondada que se assemelha a uma gota, o que se assemelha a imagem de uma lágrima. Seu comportamento é marcado por uma andar curvado e o arrastar os pés no solo. Enquanto isso, a Raiva é personificada através de uma forma quadrada, rústica e vermelha, assemelhando-se a um tijolo. Seus passos são decididos, transmitindo uma determinação firme. O Medo adota uma tonalidade roxa e assume uma forma ligeiramente abstrata, assemelhando-se a um nervo. Seus movimentos são caracterizados por uma certa hesitação e insegurança. Por fim, a figura de Nojinho exibe um tom verde e destaca-se por ter uma cabeça proporcionalmente maior em relação ao corpo, lembrando a aparência de um brócolis. Essa personagem, personifica uma notável confiança e autoridade.

A animação retrata a evolução da menina à medida que ela passa da infância para a adolescência, revelando as complexidades emocionais que surgem durante essa transição. É evidente que essa transformação também afeta a maneira como Riley se comporta, pensa, se relaciona com o mundo e expressa seus sentimentos. Evidenciando assim algo que chamamos de inteligência emocional, você sabe o que é ou já ouviu falar?

A inteligência emocional é quando o ser humano utiliza de coisas que acontecem ao seu redor para compreender o mundo. Segundo a neurociência, o cérebro humano pode ser dividido em hemisfério esquerdo (responsável pela parte racional, matemática, lógica, cognitiva, analista e crítica) e hemisférico direito (fica responsável pela intuição, emoções, sentimentos). Apesar de opostos a inteligência emocional passa por ambos os hemisfério para que ocorra o desenvolvendo da percepção emocional (FLOEGEL; FUCHS; KELL,2019).

A figura mostra os hemisférios do cérebro e os processos de percepção emocional relacionados e desenvolvidos por ambos os lados.

É de se ressaltar que o termo “inteligência emocional” foi utilizado pela primeira vez por Salovey & Mayer (1980) em seu artigo homônimo no qual é apresentado como uma subclasse da Inteligência Social, cujas habilidades estariam relacionadas ao “monitoramento dos sentimentos e emoções em si mesmo e nos outros, na discriminação entre ambos e na utilização desta informação para guiar o pensamento e as ações” (Salovey & Mayer, 1990, p. 189). A utilização de processos relacionados à Inteligência Emocional segundo os mesmos autores, se inicia quando uma informação carregada de afeto entra no sistema perceptual, envolvendo os seguintes componentes: a) avaliação e expressão das emoções em si e nos outros; b) regulação da emoção em si e nos outros; e c) utilização da emoção para adaptação. Esses processos ocorrem tanto para o processamento de informações verbais, quanto não-verbais.

No ano de 1997, Mayer e Salovey apresentaram uma versão aprimorada, mais esclarecedora e melhor estruturada do modelo de 1990. Enquanto o modelo anterior enfatizava a percepção e o controle das emoções, deixava de abordar o aspecto do pensamento relacionado aos sentimentos. Nas palavras dos próprios autores, a definição que soluciona essas lacunas é a seguinte: ‘’A Inteligência Emocional envolve a capacidade de perceber acuradamente, de avaliar e de expressar emoções; a capacidade de perceber e/ou gerar sentimentos quando eles facilitam o pensamento; a capacidade de compreender a emoção e o conhecimento emocional; e a capacidade de controlar emoções para promover o crescimento emocional e intelectual”. (Mayer & Salovey, 1997, p. 15)’’.

A explicação do processamento de informações emocionais é abordada por meio de um sistema de quatro níveis, os quais se estruturam conforme a complexidade dos processos psicológicos envolvidos: a) compreende a percepção, avaliação e expressão das emoções. b) aborda a emoção como um facilitador do pensamento. c) explora a compreensão e análise das emoções, bem como o uso do conhecimento emocional. d) foca no controle reflexivo das emoções como um meio para promover o crescimento emocional e intelectual. A seguir, serão descritos esses quatro níveis em detalhes.

A habilidade de percepção, avaliação e expressão emocional engloba uma gama de competências, desde a capacidade de identificar emoções em si mesmo, nos outros e em objetos ou situações físicas, até a aptidão para comunicar essas emoções e suas necessidades associadas. Além disso, envolve a capacidade de discernir a autenticidade de uma expressão emocional, identificando se ela é genuína, falsa ou uma tentativa de manipulação.

Agora, quando falamos sobre a emoção como facilitadora do pensamento, estamos nos referindo ao uso da emoção como um sistema de alerta que direciona nossa atenção e pensamento para as informações mais relevantes, sejam elas internas ou externas. A capacidade de evocar sentimentos em si mesmo pode ser valiosa na tomada de decisões, pois permite que as emoções sejam experimentadas, manipuladas e avaliadas antes de uma escolha ser feita, funcionando como um tipo de “ensaio”. No que se refere à compreensão e análise das emoções (ou conhecimento emocional), isso abrange desde a capacidade de rotular emoções até a habilidade de distinguir nuances entre elas, como diferenciar entre “gostar” e “amar”. Isso também envolve a compreensão de emoções complexas, como a capacidade de sentir amor e ódio por uma mesma pessoa, bem como a compreensão das transições de um sentimento para outro, como ir da raiva para a vergonha.

Por fim, quando mencionamos o controle reflexivo das emoções para promover o crescimento emocional e intelectual, estamos nos referindo à habilidade de lidar com reações emocionais, sejam elas positivas ou negativas, de forma equilibrada. Isso envolve a capacidade de tolerar essas emoções, compreendê-las sem exagero ou minimização, controlá-las quando necessário e liberá-las no momento apropriado.

Referencias:

PUC ONLINE. Quais são os 5 pilares da Inteligência Emocional. Disponível em: https://online.pucrs.br/blog/public/pilares-inteligencia-emocional. Acesso em: 23 de agosto de 2023.

QUINTANILHA, BA. Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ensino Fundamental: as contribuições do filme Divertida Mente; 2021; Trabalho de Conclusão de Curso; (Graduação em Ciências Biológicas) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em: Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ensino Fundamental as contribuições do filme Divertida Mente.pdf (uerj.br) Acesso em: 23 de agosto de 2023.

OLIVEIRA S. et al. Divertido da mente: A transição emocional infância-adolescência mostrada. O filme suas implicações e identificações pessoais. 2019. Disponível em: https://www.portalintercom.org.br/anais/sudeste2019/resumos/R68-1031-1.pdf. Acesso em: 23 de agosto de 2023.

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