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O que muda na maternidade?

As mulheres produzem grandes quantidades de hormônios como a progesterona em preparação para gerar uma nova vida. Além disso, o cérebro delas também se aprimora para a maternidade e se adapta para corresponder às necessidades do bebê por pelo menos 2 anos após a gestação.

Um grupo de pesquisadores da Universidade de Leiden, na Holanda, realizou um ensaio clínico randomizado para observar se há alterações da substância cinzenta do cérebro de mães de primeira viagem em comparação com o de mulheres que nunca engravidaram. Essa substância compõe a parte do cérebro que contém os corpos celulares dos neurônios e seus núcleos, como representado na Figura 1 abaixo:

Figura 1: Corpo celular de um neurônio. Fonte: National Institutes of Health. (Creative Commons)

A  partir da verificação da substância cinzenta registrada pelo exame de ressonância magnética, foi possível determinar quais mulheres já haviam engravidado e quais ainda não. Ou seja, as imagens de seus cérebros eram diferentes em regiões muito específicas.

Ficou curioso para saber o que mudou? Calma, vamos explicar um pouco mais adiante!


As áreas analisadas coincidiram com o que o psicólogo Henry M. Wellman constata sobre a Teoria da Mente. Ele é professor da Universidade de Michigan (EUA) e especialista em Desenvolvimento Infantil. Ao longo de seu artigo, ele afirma que existem três redes neurais principais responsáveis pela resolução de conflitos, inteligência emocional e previsão de ações e comportamentos. Essa teoria foi desenvolvida a partir da observação de crianças entre 3 e 5 anos e de como elas compreendiam suas próprias ações e a de outras pessoas (WELLMAN, 2018).

E o que são essas redes neurais? Os pesquisadores Basset e Sporns as definem como caminhos traçados por um conjunto de neurônios para transmitir informações específicas da maneira mais eficiente e rápida possível, formando assim regiões particulares para determinadas funções.

Continuando, quando pensamos, na maternidade, essas características estão muito ligadas aos cuidados e a atenção que as novas mães precisarão ter para criar seus filhos, não é mesmo? 

Assim, faz sentido que nas imagens de ressonância o grupo de pesquisa tenha notado aumentos nos volumes dessas mesmas regiões, como podemos ver na Figura 2 abaixo:

Figura 2:  Ressonância magnética das regiões correspondentes a Teoria da Mente de mulheres e as que sofreram alteração em mulheres grávidas. Fonte: Hoekzema, E., Barba-Müller, E., Pozzobon, C. et al. 2017. Imagem adaptada.

Aleknaviciute e colaboradores, em um outro estudo, também discutiram sobre a plasticidade do cérebro de mulheres que engravidaram e das pós parto. A plasticidade é a capacidade do nosso cérebro de se modificar, criando novas conexões de acordo com os estímulos recebidos. Isso significa que ele poderá se reorganizar constantemente ao longo da vida.  Muito incrível, né?! 

E nas mulheres grávidas, o que acontece? 

Esse grupo de pesquisa constatou mudanças na proliferação das células da glia e dos neurônios (células do Sistema Nervoso), além de algumas mudanças na sua morfologia (formato) devido ao grande fluxo hormonal durante o período de gestação e do puerpério. 

Além disso, notaram que algumas regiões importantes do cérebro como o sulco temporal superior e a amígdala estavam mais ativas durante esse tempo. Essas áreas estão diretamente relacionadas com habilidades necessárias para o cuidado dos filhos, como a atenção, a vigilância e a percepção de mudanças comportamentais.

E sabe o mais interessante? Esses pesquisadores observaram mudanças similares no cérebro de mães e pais por adoção! Ou seja, os laços afetivos para além dos de sangue também são capazes de influenciar na plasticidade cerebral! 

Como são importantes os laços que criamos com aqueles que amamos, não é verdade? O cuidado vem mesmo de dentro para fora! 

Já tinha pensado sobre isso? Vai lá no nosso post e deixa nos comentários o que achou! 

Lembrou de algum outro tema interessante? Nos mande uma sugestão, vamos gostar!

Até a próxima!

Referências Bibliográficas:

HOEKZEMA, E., BARBA-MÜLLER, E., POZZOBO, C. et al. Pregnancy leads to long-lasting changes in human brain structure. Nat Neurosci 20, 287–296 (2017). Acesso em: 05/05/2022. Disponível em https://www.nature.com/articles/nn.4458#Sec14 

ALEKNAVICIUTE, J., EVANS, T.E., ARIBAS, E. et al. Long-term association of pregnancy and maternal brain structure: the Rotterdam Study. Eur J Epidemiol (2022). Acesso em: 09/05/2022. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10654-021-00818-5  

WELLMAN, H. M. Theory of mind: The state of the art. European Journal of Developmental Psychology. Vol. 15. (2018). Acesso em 11/05/2022. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/17405629.2018.1435413?scroll=top&needAccess=true  

BASSETT, D., SPORNS, O. Network Neuroscience. Nature Neuroscience. Vol. 20, pp. 353–364. (2017). Acesso em: 11/05/2022. Disponível em: https://www.nature.com/articles/nn.4502 

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